quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dona Roriz sangrou ao vivo

No primeiro momento, pode parecer cômico. E diversos amigos de Brasília contaram-me terem ido às gargalhadas com as intervenções da candidata. Mas assistir às cenas de madame Roriz no debate da TV Globo é deparar-se com o patético.

Expor-se ao ridículo, ao vexatório para contentar a voracidade eleitoral do marido é submeter-se a níveis impensáveis para o Brasil de 2010. É no mínimo humilhante candidatar-se na condição de esposa submissa numa campanha que tem duas mulheres de histórias de luta tão inspiradoras na disputa pela Presidência da República.

E apesar da Mulher Pera, da candidata 69 e sei lá mais que fenômenos midiáticos femininos essa eleição projetou, a campanha ainda tem muitas outras mulheres que conquistaram espaço no poder pela coragem, pela trajetória que construíram. Muitas das quais arriscaram votos e mandatos para não se submeter a seus homens ou a convenções.

Alguém acha que é pouco Marta Suplicy mudar de marido quando bem entende e ainda aparecer, a poucos dias da  eleição, dando selinho no namorado quase 20 anos mais jovem na coluna da Monica Bergamo? A mesma Marta que, nos anos 80, ousou falar "vagina" e "pênis" e "pênis na vagina" para os telespectadores da hora do almoço.

Marta dirige a própria vida. E boa parte das brasileiras também. As brasileiras dirigem famílias, dirigem ônibus, dirigem grandes companhias... Dona Roriz não. Dona Roriz é dirigida. Ou mal dirigida. Abestalhada e perdida em papéis no estúdio da Globo, não conseguia articular frases que fizessem sentido para si mesma, que dirá para o coitado do eleitor.

Agia atônita, como se estivesse cercada de inimigos no palco. Inimigos?! Eram meras testemunhas de um teatro de horrores que ela protagonizava.

Dona Roriz sangrou ao vivo. Estuprada pelo próprio marido.

domingo, 26 de setembro de 2010

A fauna eleitoral

A caminhada em direção ao parque do Ipirabuera neste sábado foi "animada" pela fauna eleitoral. Ainda na Brigadeiro Luiz Antonio, um caminhão puxava uma "arca" lotada de sofríveis réplicas de animais em alusão a um candidato supostamente protetor dos bichinhos. No áudio, grunhidos!!!
Mais à frente, na esquina, tucanos.... Representantes da elite limpinha dos Jardins-Itaim empunhavam bandeiras do candidato ao governo. Teria sido desespero pós-divulgação da pesquisa Vox Populi na sexta?

Estavam todos animadinhos e impecáveis sob céu nublado. Mas quando o sol se abriu, nem o risco de segundo turno foi suficiente para manter o grupo a postos. O tucanato sucumbiu e sumiu.

Firmes mesmo estavam as garotas propaganda de um certo "socialista". Resistência 10. Discurso 0: "Nossa, esse candidato é muito feio, mas estão me pagando, então eu distribuo", dizia uma delas, ao comparar seu contratante com a foto de outro candidato metido a galã num cavalete.

Dentro do parque, integrantes de uma fauna que não concorre à eleição, um playboy e um pitbull protagonizavam o show. Correndo, o sujeito bombado levava pela coleira o animal sem fucinheira. Fugia a galope e debochava dos guardas municipais que o perseguiam com dificuldade.
Finalmente encurralado, o badboy defendeu-se: "ele não consegue correr de fucinheira, não consegue respirar. Poxa,  estou cansado desse preconceito". Puxado por uma ciclista, o coro de atletas de fim de semana foi imediato: "Babaca, babaca, babaca...."

A administradora de plantão chegou em instantes. Decidida, porém discreta, a moça de juba loira enquadrou o rapaz, que engoliu a arrogância e a petulância na marra e só continuou o passeio após encaixar a fucinheira na bocarra do cachorro.

Na volta, mais um canino no meio do caminho. Desta vez, em forma de cavalete, para anunciar outro candidato defensor dos animais. A propaganda jazia na calçada, já pisoteada, bem em frente ao comitê de mais um concorrente: um boleiro metido a modelo, que posou para as fotos fazendo caras e bocas. Mais à frente, um bigodudo e seu slogan: "Esse sim é sério!"

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Passeio bom...



Com Fernanda em Niterói, onde chegamos de barca com dois amigos supercompanheiros: Lucio e Argeu. Acho que era agosto de 2009. Ela queria conhecer o Museu de Arte Contemporânea (Oscar Niemayer). Eu queria mesmo era navegar e conferir o que _ dizem_ Niterói tem de melhor: a vista do Rio. Os meninos, sulistas, moradores do Rio e nossos anfitriões, faziam, como nós, o passeio pela primeira vez. Bom, bonito e barato!

No cinema com um astro peão

No dia em que o filme Lula, o filho do Brasil foi anunciado como candidato a candidato ao Oscar de filme estrangeiro, lembrei-me de uma crônica que escrevi para a coluna Cidad'Elas, que eu assinava em revezamento com a também jornalista e amiga Cláudia Fernandes, aos domingos, no caderno Setecidades do Diário do Grande ABC. O texto foi publicado em 5 de dezembro de 2004:

O tema cinema é recorrente na coluna, mas vou pedir licença mais uma vez ao leitor para voltar ao assunto. Afinal, não é sempre que se assiste a uma película ao lado de um dos astros do filme. Nicolas Cage, Richard Gere, Tom Hanks... Nenhum deles.
O galã da vez é seu Miguel. Pernambucano, metalúrgico do ABC.
Ex-Volks, ex-Polimatic, ex-dono de forró, ex-cobrador de ônibus, seu Miguel ocupava uma das poltronas da sala 9 do Cinemark do Extra Anchieta, em São Bernardo, no sábado passado.
Acompanhado da mulher ("sou a terceira") e de uma filha adulta, o torneiro aposentado acomodava-se como na sala de casa, de camisa escancarada até o umbigo.
De peito praticamente nu, seu Miguel chamava a atenção da dezena de espectadores da sessão daquela tarde. Metalúrgicos? Nenhum mais. Por que não foram? O dia estava quente, ensolarado, digno de pegar peixe na represa, banhar-se no Estoril. Típicos programas de peão do ABC, principalmente para os que não podem pagar o pedágio para a praia ou o ingresso para a sessão.
Mas seu Miguel, contrariando a lógica, foi refrescar a ideia no cinema. E pagou pelas entradas. "Para a apresentação (pré-estreia) me deram só dois convites. Mas saio sempre com a mulher e a filha".
Nem mesmo a dependência da cadeira de rodas impedeiu que ele quebrasse jejum de "uns 12 anos". "Da última vez, vimos um filme pornográfico", revela sem cerimônia.
Demorou até que seu Miguel pudesse usufruir de seus minutos de fama. O depoimento dele aparece quase ao final de "Peões", documentário sobre o movimento sindical da região.
Antes dele, pôde ver diversos colegas em cena. "Eu conheci essa", diz empolgado, em voz alta, ao ver Zelinha, a moça que foi faxineira no sindicato, mas que agora faz o café.
A ansiedade da espera se acelera a cada imagem da luta operária; das assembleias; das passeatas; dos velhos companheiros na porta da fábrica. Emoção segundo a segundo para quem viveu no ABC daqueles dias.
"Óia home", comemora a mulher ao ver o marido na telona. Lá estava seu Miguel. Camisa aberta também à frente da câmera; despido de interpretação e entregue às lembranças. Quem ainda tinha alguma dúvida certificou-se: o astro estava na projeção e também ali ao lado. Agora discreto, aos prantos. Peão de verdade também chora.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Uma desconhecida mora na minha casa

Foto: Eu e Fernanda (Aeroporto de Guarulhos, tarde de 25/07).
Lá se foram 58 dias ou 83.520 minutos desde que ela se mandou tão corajosa e repentinamente para a gelada Irlanda.
Tudo decidido em pouco mais de um mês.
Mal deu para digerir a ideia e lá estava ela de malas prontas.
Agora, só a tecnologia para me acalmar o coração.
Skype, MSN, FaceBook, telefone...Tudo isso alivia as preocupações: "que tal a escola? como seus amigos a receberam? o que está comendo? comprou uma boa capa de chuva? quem é esse com quem você está saindo? já arrumou trabalho?". As vezes as respostas são evasivas, de má vontade. Como seriam em casa. Então, ok. Nesse departamento, TUDO IGUAL!
Mas tenho uma IMENSA saudade. Saudade do toque, do cheiro, da presença pela casa. Sinto falta dos dias em que ela estava disposta a abraços, confidências e alguma história, mas também dos dias de silêncio, pouca conversa, recolhimento e introspecção, quando apenas se fazia hóspede.
Pouco importava o humor. Estava por perto, ao alcance da mão.
Agora, a casa anda cheia de vazio. Nem uma festa pode dar conta de preenchê-lo.
Não é pra menos. Desde a concepção passaram-se pelo menos 22 anos, dois meses e uns tantos dias juntas. Uma vida dentro da minha! Uma vida que energizou a minha. Uma vida que mudou a minha. E que, num movimento, a faz mudar de novo. E agora, quem sou eu? Dá até medo de voltar para casa. Lá mora uma desconhecida.