quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Primas


Somos uma, duas, três, quatro, cinco, seis e sete.
Todas primas, faça sol ou chova canivete.

A primeira foi batizada Monica de Fátima.
Era a única queridinha até chegar a pequena Ana Maria.

A dupla reinou muito mimada até Rita de Cássia,
com eficácia, acabar com essa mamata.

Mal se acostumaram a dividir as atenções,
veio Maria Angelica, nas melhores intenções.

Essa aproveitou seu tempo de mascote,
até aparecer Heloisa Helena, pra cessar esse fricote.

Ainda era miúda quando resolveu deixar aberta
a vaga de caçula pra Roberta.

Esperta, já era crescidinha quando
então chegou a Bárbara. Essa sim a lanterninha.

Nasceu então o clube das primas, para o qual não importa o tempo,
o encontro é sempre um evento.

Afinal, são todas netas de Maria, e só isso já é motivo de alegria.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

London - Set.1994 - Dez. 2010


Set. 1994 
_ Alô, Fê? É a mamãe. Estou com muiiiita saudade, mas muiiiito feliz. Primeiro porque sei que a vovó está cuidando superbem de você. Segundo porque estou adorando passear em Londres. Terceiro porque tenho certeza que um dia você também vai conhecer essa cidade. E vai me entender...

Dez. 2010
_Alô, mãe? Tá muiiiito frio, mas deu pra passear bastante. A pé, de ônibus. Agora parei pra comer um lanche... O hostel é bem legal. Fica na Piccadilly. Fiz uma lista de lugares pra visitar amanhã. Olha só: Madame Tussauds; Palácio de Buckingham...

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Shana Alana e Tatiana


Em dias de filha longe, ando fazendo amizade fácil com a geração anos 90. Foi assim no último domingo, em Copacabana. Começou com a aproximação de praxe: "A senhora pode tomar conta das nossas coisas enquanto vamos na água?"
_"Claro que a senhora pode..."
Quando as duas meninas voltaram do mar, convidei-as a aproveitar um pouco a sombra do meu guardo-sol. E ficamos ali a nos conhecer.
_ "Prazer, Shana Alana..."
Ao que respondi automaticamente: _"Filha de Baby Consuelo?".
_ "Minha mãe é muito fã dela...", respondeu a vestibulanda de 21 anos que aparece de boné do Brasil numa das fotos.
_ "Eu também, mas prefiro Pepeu e sua guitarra", emendei, perguntando em seguida o nome da outra.
_ "Tatiana", a primogênita de alguns irmãos e meio-irmãos.
_ "Somos amigas de infância", conta Shana, que tem um irmão mais velho, "especial".

Moram em Nova Iguaçu, cada qual com sua mãe. Ou seria Belfort Roxo? Dúvidas de quem vive bem no limite das duas cidades da Baixada Fluminense.
_ "Algumas contas vêm de Berfort, outras de Nova Iguaçu", conta Shana, cuja mãe é agente comunitária na prefeitura da primeira.
Para chegar em Copacabana gastam umas duas horas ou um pouco menos se tiverem sorte: ônibus, metrô e finalmente uma caminhadinha de 15 minutos da estação Arcoverde até a orla.
_ "Não dá pra vir sempre. Gasta-se muito de transporte", argumenta Shana, explicando que Tati é sua amiga de infância e que sempre saem juntas...
_"Nova Iguaçu é que tem o prefeito bonitão, não é?", provoco.
_ "O Lindberg Farias", respondem imediatamente, explicando que o galã dos caras pintadas foi eleito senador.
_"Minha mãe pintou a cara também. Ela sempre diz que lutou muito, protestou muito", orgulha-se Shana.

Pergunto sobre o desempenho de Lindberg.
_"Transformou Nova Iguaçu numa metrópole", resume Shana. E falam com entusiasmo de um calçadão que tem iluminação colorida à noite e virou ponto de encontro dos jovens da cidade.
Mas queixam-se da falta de emprego: "Mandei currículo para São Paulo só por curiosidade. E me chamaram para a seleção, mesmo eu tendo informado meu endereço verdadeiro", surpreende-se Shana.
Torcem, porém, para que a Copa e as Olimpíadas tragam mais oportunidades. No Pan, ainda não podiam trabalhar.

Defensoras do ProUni e das cotas, prestaram vestibular na federal e na estadual. Tati tentou Psicologia e História. Shana quer Relações Internacionais e se queixa porque as provas não exigiram conhecimentos sobre história brasileira recente, tema sobre o qual ela estudou "muito".
_ "Fui superbem no Enem, que teve um exame muito mais completo", avalia a afilhada de Baby. E faz planos para a carreira que escolheu: "Quero ser independente. Há muitos lugares que quero conhecer. Eu penso pra frente, sempre pra frente; fico sonhando, planejando, me imaginando nos lugares. Quero conhecer a neve, mas também quero que a neve me conheça".

Vê na eleição de Dilma um incentivo a mais para "andar pra frente" e conta indignada uma conversa que teve com um amigo após a ex-ministra sagrar-se vitoriosa nas urnas:
_ "Perguntei se ele tinha noção do que significava a eleição de uma mulher para a presidência da República. E ele disse: 'tanto faz'. Eu falei: 'cara, é incrível. Estamos vivendo um momento que estará nos livros de história daqui a alguns anos."

Tiramos fotos, brincamos no mar...
15h30: recolhem as toalhas, a bolsa. Nova Iguaçu fica longe. E minhas companheiras de praia se despedem:
_"Então vamos nos falar por msn, pelo Facebook...", sugerem.
_"Combinado".
Aqui está. Espero que gostem das fotos. Eu adorei o domingo.


quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Nunca achei que parecesse comigo....

...mas hoje me assustei ao ver 
novas fotos de Fernanda
postadas no Facebook. E comparei:
Eu, em 1995. Ela, neste mês.
Há percepções que só a distância propicia. Como ver a filha virar mulher.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Brinquedos...


O que vale a pena 1

Temos muitas diferenças. Ela me acusa de ser prática demais, racional além da conta e por aí vai...  Mesmo assim, em mais de 15 anos, já compartilhamos muita coisa nessa vida. Na foto deste post, a gente já tinha tomado umas duas ou três Stella Artois esperando o show da Norah Jones. Moça bonitinha, simpática, boa voz e MUITO linear pro meu gosto. Sorte de Norah é ter feito uma tarde linda de domingo. Mas o melhor da festa não estava no palco. O melhor foi desfrutar de boa companhia, mais uma vez. Isso vale qualquer congestionamento e banheiro químico.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Filha, elegemos uma mulher para a Presidência.

Há tantas e tantas coisas que queria te dizer, filha, sobre a eleição de domingo. Mas você está longe e, ao telefone, no skype, enfim..., acabamos falando de outros assuntos e não sobrou tempo.
Só deu pra ler dois trechos do discurso da Dilma. Aqueles nos quais ela fala das mulheres e das meninas e que até lembram algumas das minhas frases de incentivo quando você demonstra desânimo diante de alguma dificuldade, de algum preconceito, de alguma injustiça. Lembra?
Então, para explicar melhor como me sinto, peguei emprestada a essência de uma frase da filósofa Marilena Chauí publicada durante a campanha, só pra me ajudar a resumir a alegria: "Pertenço a uma geração de brasileiros que viveu lutas (as do dia a dia, as de todo dia), sofrimentos (a derrocada da escola pública, o aluguel), dores (melhor não lembrá-las), tormentos (como os preconceitos de gênero); mas que conhece momentos de alegria e de glória. É a geração que viu o Mandela presidente da África do Sul, um índio presidente da Bolívia, um negro presidente dos Estados Unidos, um operário e uma mulher na Presidência do Brasil.”
É isso, filha. Você não estava aqui. Mas queria que soubesse da minha alegria. E queria muito, no domingo especialmente, ter te dado um abraço bem apertado!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Primeiro Halloween

Finalmente achei essas fotos antes de o mês de outubro acabar: Halloween na Escola da Granja.
Acho que minha mãe deve ter feito essa roupa...
Na foto da esquerda, Fernanda encarna uma vampira.
À direita, ela pinta de preto as unhas de uma xará.
Não me lembrava de que o dom de manicure tivesse aparecido tão cedo. Tinha 7 ou 8 anos.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Pra matar a saudade... 3

Passados três meses, estou com o coração muiiiiiito apertado. Então, pra matar a saudade de ficarmos juntas (e misturadas), vão aí as fotos dos primeiros aniversários: 1 (tema palhaço), 2 (Moranguinho), 3 (turma da Monica), 4 (não-identificado), 5 (de improviso). Dava um puta trabalho fazer festa em casa... mas ela curtia intensamente cada segundo. Na penúltima foto deste post, a festa de 6 anos, num buffet, com a Branca de Neve. Na última, o de 7 anos (sem tema!), de novo em casa. Dessa vez comemoramos juntas. Eu fazia 30 anos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mar Português, para Fernanda

Ontem, folheando um pequeno livro de poesias de Fernando Pessoa, revi, na página 11, um poema que Fernanda adorava declamar quando estava na escola.
É tão bonito o modo como ele fala de saudade, do perigo e do fascínio do mar, que resolvi reproduzir aqui...

"Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu."

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Pra matar a saudade ... 2

Hoje Fernanda pediu mais postagens de fotos antigas... Então, pra ficar no clima do mês, que teve dia do professor e das crianças, escolhi uma da fase escolar. Adoro essa de uma atividade na Escola da Granja, de 1998, quando ela cursava a 2ª série. Tinha 8 anos. A professora compôs um repente falando de cada aluno, e entregou fotos da turma e o texto numa pastinha de cartolina amarela. Um trecho diz assim: "Tenho uma aluna Fernanda, que faz tudo bem ligeiro. Quando passo um trabalho, ela é quem faz primeiro".

sábado, 9 de outubro de 2010

Pra matar a saudade... 1

São achados de um tempo em que não havia máquina digital. Nem fotógrafos profissionais por perto...
Mas sou grata por cada momento clicado. Essas imagens valem um tesouro em tempos de filha longe e de um novo ciclo da vida se estabelecendo.





No Reveillón de 89/90, aos 5 meses de gestação. E Fernanda aos 19 dias de vida, mamando durante a festa de aniversário da prima Karen. Era o dia do meu aniversário também. 

Fê com os irmãos (Emerson e Vanessa), na casa de Santo André (aos seis meses, será?). Tinham acabado de acordar. E no Zoo de SP (com 1 ano e pouco talvez). Fez um dia lindo, embora estivesse meio friozinho...






 
Fê, eu e Roberto (o pai), no aniversário de 1 ano e num passeio à casa dos meus tios, em Mairiporã.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Joaquim para Maria: "Ofreço como prova de amor", 7/11/1932



Ela já passava dos 90 quando se foi... Mas jurava, até o final, sustentar uma paixão que a havia arrebatado ainda muito jovem.

Ela, Maria, tinha 14 anos quando deixou Santa Catarina.

Ele, Joaquim, saíra de Portugal aos 16 ou 17.

Doméstica sem salário, Maria trabalhava e morava na casa da família de um tenente-coronel da Força Pública, em SP.

De porta em porta, Joaquim vendia verduras, entregava pão... Na freguesia, a casa de Maria.

Conheceram-se. Ele venceu o rigor da mocinha que, segundo a própria contava, fez-se difícil.

Decidido, Joaquim aceitou as regras. Pediu aos patrões da moça permissão para namorá-la.

No Jardim da Aclimação, o gajo posou para a foto que ilustra este post. No verso, com letra desenhada com caneta tinteiro, escreveu: "Ofreço como prova de amor".

Naquela data, 7/11/1932, Maria completava 18 anos. Pena seus patrões nunca a terem enviado à escola. Maria nunca aprendeu a ler.

Na véspera do casamento, Joaquim tentou "roubar" um beijo da noiva. No rosto, bem-entendido. Mas Maria continuava rigorosa. "Não seja atrevido", advertiu-o.

Lutaram um bocado para criar três filhos. Mercearia, Venda, Padaria... Não fosse venderem tanto fiado, teriam ido mais longe. Viveram juntos até 1966, quando um infarto venceu Joaquim.

Que bom Maria ter preservado essa foto nos seus poucos guardados...

Tê-la achado hoje valeu meu domingo. Obrigada, vó!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dona Roriz sangrou ao vivo

No primeiro momento, pode parecer cômico. E diversos amigos de Brasília contaram-me terem ido às gargalhadas com as intervenções da candidata. Mas assistir às cenas de madame Roriz no debate da TV Globo é deparar-se com o patético.

Expor-se ao ridículo, ao vexatório para contentar a voracidade eleitoral do marido é submeter-se a níveis impensáveis para o Brasil de 2010. É no mínimo humilhante candidatar-se na condição de esposa submissa numa campanha que tem duas mulheres de histórias de luta tão inspiradoras na disputa pela Presidência da República.

E apesar da Mulher Pera, da candidata 69 e sei lá mais que fenômenos midiáticos femininos essa eleição projetou, a campanha ainda tem muitas outras mulheres que conquistaram espaço no poder pela coragem, pela trajetória que construíram. Muitas das quais arriscaram votos e mandatos para não se submeter a seus homens ou a convenções.

Alguém acha que é pouco Marta Suplicy mudar de marido quando bem entende e ainda aparecer, a poucos dias da  eleição, dando selinho no namorado quase 20 anos mais jovem na coluna da Monica Bergamo? A mesma Marta que, nos anos 80, ousou falar "vagina" e "pênis" e "pênis na vagina" para os telespectadores da hora do almoço.

Marta dirige a própria vida. E boa parte das brasileiras também. As brasileiras dirigem famílias, dirigem ônibus, dirigem grandes companhias... Dona Roriz não. Dona Roriz é dirigida. Ou mal dirigida. Abestalhada e perdida em papéis no estúdio da Globo, não conseguia articular frases que fizessem sentido para si mesma, que dirá para o coitado do eleitor.

Agia atônita, como se estivesse cercada de inimigos no palco. Inimigos?! Eram meras testemunhas de um teatro de horrores que ela protagonizava.

Dona Roriz sangrou ao vivo. Estuprada pelo próprio marido.

domingo, 26 de setembro de 2010

A fauna eleitoral

A caminhada em direção ao parque do Ipirabuera neste sábado foi "animada" pela fauna eleitoral. Ainda na Brigadeiro Luiz Antonio, um caminhão puxava uma "arca" lotada de sofríveis réplicas de animais em alusão a um candidato supostamente protetor dos bichinhos. No áudio, grunhidos!!!
Mais à frente, na esquina, tucanos.... Representantes da elite limpinha dos Jardins-Itaim empunhavam bandeiras do candidato ao governo. Teria sido desespero pós-divulgação da pesquisa Vox Populi na sexta?

Estavam todos animadinhos e impecáveis sob céu nublado. Mas quando o sol se abriu, nem o risco de segundo turno foi suficiente para manter o grupo a postos. O tucanato sucumbiu e sumiu.

Firmes mesmo estavam as garotas propaganda de um certo "socialista". Resistência 10. Discurso 0: "Nossa, esse candidato é muito feio, mas estão me pagando, então eu distribuo", dizia uma delas, ao comparar seu contratante com a foto de outro candidato metido a galã num cavalete.

Dentro do parque, integrantes de uma fauna que não concorre à eleição, um playboy e um pitbull protagonizavam o show. Correndo, o sujeito bombado levava pela coleira o animal sem fucinheira. Fugia a galope e debochava dos guardas municipais que o perseguiam com dificuldade.
Finalmente encurralado, o badboy defendeu-se: "ele não consegue correr de fucinheira, não consegue respirar. Poxa,  estou cansado desse preconceito". Puxado por uma ciclista, o coro de atletas de fim de semana foi imediato: "Babaca, babaca, babaca...."

A administradora de plantão chegou em instantes. Decidida, porém discreta, a moça de juba loira enquadrou o rapaz, que engoliu a arrogância e a petulância na marra e só continuou o passeio após encaixar a fucinheira na bocarra do cachorro.

Na volta, mais um canino no meio do caminho. Desta vez, em forma de cavalete, para anunciar outro candidato defensor dos animais. A propaganda jazia na calçada, já pisoteada, bem em frente ao comitê de mais um concorrente: um boleiro metido a modelo, que posou para as fotos fazendo caras e bocas. Mais à frente, um bigodudo e seu slogan: "Esse sim é sério!"

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Passeio bom...



Com Fernanda em Niterói, onde chegamos de barca com dois amigos supercompanheiros: Lucio e Argeu. Acho que era agosto de 2009. Ela queria conhecer o Museu de Arte Contemporânea (Oscar Niemayer). Eu queria mesmo era navegar e conferir o que _ dizem_ Niterói tem de melhor: a vista do Rio. Os meninos, sulistas, moradores do Rio e nossos anfitriões, faziam, como nós, o passeio pela primeira vez. Bom, bonito e barato!

No cinema com um astro peão

No dia em que o filme Lula, o filho do Brasil foi anunciado como candidato a candidato ao Oscar de filme estrangeiro, lembrei-me de uma crônica que escrevi para a coluna Cidad'Elas, que eu assinava em revezamento com a também jornalista e amiga Cláudia Fernandes, aos domingos, no caderno Setecidades do Diário do Grande ABC. O texto foi publicado em 5 de dezembro de 2004:

O tema cinema é recorrente na coluna, mas vou pedir licença mais uma vez ao leitor para voltar ao assunto. Afinal, não é sempre que se assiste a uma película ao lado de um dos astros do filme. Nicolas Cage, Richard Gere, Tom Hanks... Nenhum deles.
O galã da vez é seu Miguel. Pernambucano, metalúrgico do ABC.
Ex-Volks, ex-Polimatic, ex-dono de forró, ex-cobrador de ônibus, seu Miguel ocupava uma das poltronas da sala 9 do Cinemark do Extra Anchieta, em São Bernardo, no sábado passado.
Acompanhado da mulher ("sou a terceira") e de uma filha adulta, o torneiro aposentado acomodava-se como na sala de casa, de camisa escancarada até o umbigo.
De peito praticamente nu, seu Miguel chamava a atenção da dezena de espectadores da sessão daquela tarde. Metalúrgicos? Nenhum mais. Por que não foram? O dia estava quente, ensolarado, digno de pegar peixe na represa, banhar-se no Estoril. Típicos programas de peão do ABC, principalmente para os que não podem pagar o pedágio para a praia ou o ingresso para a sessão.
Mas seu Miguel, contrariando a lógica, foi refrescar a ideia no cinema. E pagou pelas entradas. "Para a apresentação (pré-estreia) me deram só dois convites. Mas saio sempre com a mulher e a filha".
Nem mesmo a dependência da cadeira de rodas impedeiu que ele quebrasse jejum de "uns 12 anos". "Da última vez, vimos um filme pornográfico", revela sem cerimônia.
Demorou até que seu Miguel pudesse usufruir de seus minutos de fama. O depoimento dele aparece quase ao final de "Peões", documentário sobre o movimento sindical da região.
Antes dele, pôde ver diversos colegas em cena. "Eu conheci essa", diz empolgado, em voz alta, ao ver Zelinha, a moça que foi faxineira no sindicato, mas que agora faz o café.
A ansiedade da espera se acelera a cada imagem da luta operária; das assembleias; das passeatas; dos velhos companheiros na porta da fábrica. Emoção segundo a segundo para quem viveu no ABC daqueles dias.
"Óia home", comemora a mulher ao ver o marido na telona. Lá estava seu Miguel. Camisa aberta também à frente da câmera; despido de interpretação e entregue às lembranças. Quem ainda tinha alguma dúvida certificou-se: o astro estava na projeção e também ali ao lado. Agora discreto, aos prantos. Peão de verdade também chora.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Uma desconhecida mora na minha casa

Foto: Eu e Fernanda (Aeroporto de Guarulhos, tarde de 25/07).
Lá se foram 58 dias ou 83.520 minutos desde que ela se mandou tão corajosa e repentinamente para a gelada Irlanda.
Tudo decidido em pouco mais de um mês.
Mal deu para digerir a ideia e lá estava ela de malas prontas.
Agora, só a tecnologia para me acalmar o coração.
Skype, MSN, FaceBook, telefone...Tudo isso alivia as preocupações: "que tal a escola? como seus amigos a receberam? o que está comendo? comprou uma boa capa de chuva? quem é esse com quem você está saindo? já arrumou trabalho?". As vezes as respostas são evasivas, de má vontade. Como seriam em casa. Então, ok. Nesse departamento, TUDO IGUAL!
Mas tenho uma IMENSA saudade. Saudade do toque, do cheiro, da presença pela casa. Sinto falta dos dias em que ela estava disposta a abraços, confidências e alguma história, mas também dos dias de silêncio, pouca conversa, recolhimento e introspecção, quando apenas se fazia hóspede.
Pouco importava o humor. Estava por perto, ao alcance da mão.
Agora, a casa anda cheia de vazio. Nem uma festa pode dar conta de preenchê-lo.
Não é pra menos. Desde a concepção passaram-se pelo menos 22 anos, dois meses e uns tantos dias juntas. Uma vida dentro da minha! Uma vida que energizou a minha. Uma vida que mudou a minha. E que, num movimento, a faz mudar de novo. E agora, quem sou eu? Dá até medo de voltar para casa. Lá mora uma desconhecida.