quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Pai "ausente" é celebridade em festa de escola

Hoje, almoçando com uma nova amiga, fiz umas contas....
Descobri que em 15 anos de vida escolar as mães que criam filhos sozinhas experimentam pelo menos uns 80 episódios de ansiedade, tensão e estresse desencadeados pelos eventos temáticos que a porra das escolas promovem, contribuindo para a ausência de pai folgado ficar muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiito maior, evidente e objetiva.
Dia da mães, dia dos pais, festa junina, festa da primavera, feira de ciências, festa de encerramento do ano, sem falar nas formaturas.
O problema é que pai folgado clássico sempre diz pro filho que vai comparecer. "Oh, filhão, papai vai lá te prestigiar". Aí, a ingênua da criança fica contando com isso. Sonha com isso. Conta pros amigos, pra professora, pro tio da portaria, pro motorista da perua e pra tia da cantina: "meu pai vem".
E chega o grande dia. O filho liga pro celular do pai: "você ligou para 171-171-171-171..."
E tenta de novo: "Deixe seu recado que eu não vou ouvir..."
E mais uma vez:: "Este celular está programado para não receber chamadas de espermatozóide que teimou em vingar". Se a pensão estiver atrasada, então, é que o sujeito escorrega mesmo. Aí, cabe a você, mãe pentelha, megera, chata, distrair o filho da ausência do pai. Afinal, a festa tem de continuar.
E passados dois ou três dias de mau humor e frustração infantil, o sujeito finalmente atende ao telefone. "Filhão, o meu chefe me convocou para um congresso numa cidade onde não pega celular e não pude te avisar. O papai ficou muito chateado. Mas na próxima você pode me chamar que eu vou com todo prazer". E o filhão, por muito tempo, acredita em qualquer desculpa. Ou faz que acredita. "Poxa, mãe, meu pai queria vir, mas não pôde." E você precisa manter a classe, afinal, o filho precisa descobrir sozinho o caráter do progenitor.
Mas as vezes o pai aparece. Geralmente chega no finalzinho da dança do filho, quando a turma já fugiu da chuva, ja´matou a cobra e fez o grande baile. Se planta em local estratégico, de jeito que o filho o veja ao deixar a quadra com os colegas. Felicidade geral: "Oh, filhão. Papai adorou. Mandou bem, hem". Filhão, todo feliz, desfila com o paizão pela escola. "Tio, tio, esse aqui é o meu pai....". E tiram fotos. Muitas fotos.
E pra você, mãe que paga as contas e dá as broncas, sobram as tarefas de comprar os tíquetes para os salgados, o quentão e o bingo, inclusive pro pai folgado, que ele, em dia de celebridade, não tem tempo de ficar em fila.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Curiosidade e alguma fé

A vida tinha resolvido testar minha resistência. Em quatro meses, eu havia perdido o emprego duas vezes. Uma chacoalhada. Afinal, eu experimentara anos e anos de estabilidade; leiloara com sucesso meu passe três ou quatro vezes, gozara de bons salários e algum reconhecimento. E em que me transformara? Numa quase quarentona vivendo de subemprego, numa empresa que 10 anos antes me encheria de orgulho, mas que naquela conjuntura não passava de uma “repartição” pública, piorada por um chefe instável, agressivo e que gostava de apanhar da mulher e exibir as feridas.

E como desgraça pouca é bobagem, quando recebi o segundo bilhete azul, o namorado de então desaparecera. Da noite para o dia, o homem que perguntava se eu preferiria morar com ele numa casa ou num apartamento, simplesmente evaporou. Assim, do nada. Como se as juras de amor tivessem sido apenas obras da minha imaginação; pura fantasia feminina.  Se não o tivesse apresentado à minha filha adolescente – portanto apta a testemunhar – e a pelo menos três amigas sinceras, eu acabaria acreditando que fora tudo ilusão, delírio, vertigem... 

O sujeito não estava nas páginas policiais, nem nos necrotérios, embora fingira-se de morto, ou nas UTIs, ainda que fosse precisar de uma vaga se eu o encontrasse pela frente. Mas quando se tem conta pra pagar e filho pra criar, a engrenagem tem de continuar funcionando mesmo que o coração peça repouso e reclusão.

E em mais um dia de expediente na “repartição”, atendi ao 567º telefonema do dia. Um rapaz que não me conhecia – mas que amealhara “ótimas referências” a meu respeito, convida-me para uma entrevista de trabalho. Tão desanimada eu andava, que nem coloquei muita fé. Ainda assim, aceitei.

Era mais um trabalho temporário... Mas sendo os vencimentos e o desafio bem maiores que os da “repartição”, coloquei-me à disposição e esperei ansiosa uma resposta, que veio rápida. “Temos a primeira reunião amanhã”, anunciou meu quase novo chefe ao telefone no dia seguinte à entrevista. Eu ainda precisava passar pelo crivo do contratante, para só então abrir mão definitivamente do chefe psicopata. Foi uma longa noite, tamanha a ansiedade por recuperar a energia, a vontade de trabalhar.

Como custei a pegar no sono, despertei em cima da hora e, para piorar, o trânsito não estava a meu favor. Foram 15 minutos de atraso. Muito para o meu costumeiro rigor. Lembro-me de usar um vestido estampado, de fundo azul, com uns desenhos abstratos em diversas cores. Meio surrado. Mas, se o vestido era batido, os colegas eram novos, e isso resolvia tudo. O contratante e os demais quase-contratados já estavam todos lá. Não fiquei constrangida. Cumprimentei a todos pausadamente. Eu estava verdadeiramente feliz e grata. Acho que isso pesou para cacifar meu nome.

Quase fazendo concorrência ao contratante, outro sujeito destacou-se na reunião. Dizia-se ex-padre, ex-preso político, ex-marido de alguém; ex, ex.... A primeira impressão não foi das melhores. “Sujeito arrogante”, pensei. “Cheio de empáfia”. Oras, como esperar algo diferente de um gaúcho num primeiro encontro?

Mas o camarada, hábil e surpreendentemente generoso, não demorou a virar o jogo. Transformou minha intolerância em curiosidade e cumplicidade. Aprendi a partir dali a admirar um homem que dizia conhecer o mundo pelos livros ou pelas frestas dos confessionários. Ficara muito tempo no claustro da batina ou na limitação de um xadrez. Não por acaso, tinha ali, entre os 60 e 70 anos, uma imensa energia para devorar tudo e todos. Sofria de sede e de fome da vida real.

Eu ganhara um novo trabalho, instigante e desafiador, e, de quebra, fora premiada com um convívio dos mais ricos. Se falávamos de Jesus? Não lembro de ele ter sido citado. Mas falávamos substancialmente de um interminável evangelho de sentimentos, de alegrias, de dúvidas, de “pecados”. Aquele homem quase erudito tinha tanto a dizer quanto tinha de disposição para ouvir. Confessei-me mil vezes. Jamais me penitenciou.   

No dia em que encerramos nossas responsabilidades no projeto, sentamo-nos os dois num café. Eu de novo ficaria sem trabalho, sem perspectivas imediatas. Chorei compulsivamente, derramei todos os medos. E ouvi dele palavras de um carinho imenso, de incentivo e de acolhimento. Saí otimista, renovada. E já cheia de saudade.

Se o encontrei de novo? Umas poucas vezes, apenas uma das quais a sós. Foi tudo tão rápido quanto intenso: inconfessáveis dez minutos de um perturbador e comovente silêncio.

Algumas pessoas, perto ou longe, são para sempre!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Culpa sobre duas rodas


 
1990: Fernanda antes
das primeiras pedaladas


Não importa como tenhamos criado nossos filhos. Sozinha; a dois; com a infra da creche; com a contribuição valiosa de babás, avós, tias, vizinhas, grandes amigas...
Ser mãe é ter culpa.
E quanta culpa! Curamo-nos de uma. E logo descobrimos outra.
No fim de semana, eu observava um pai agarrado à garupa da filha quase adolescente, incentivando-a a não desistir de dar as primeiras pedaladas autônomas no Parque do Ibirapuera. A provável mãe fotografava as tentativas. E então me dei conta de que não ensinei minha filha a andar de bicicleta. O que não quer dizer que ela não tenha aprendido. Aprendeu sim. Com quem? Quando exatamente? Quais foram as dificuldades? Como se sentiu quando finalmente achou o ponto de equilíbrio?
Não sei. E aí mora a culpa. A minha mais nova culpa.
A única vez que ajudei minha filha a andar sobre rodas ela tinha um ano. Fotografei também.
Se isso diminui a culpa? Nada. Ela cresce desde sábado.
Quando se cura? Quem sabe o dia em que Fernanda me convidar para um passeio de bike...
Até lá, sigo em desequilíbrio.



sábado, 23 de julho de 2011

Porque hoje é sábado...

O encontro foi em junho. Mas como o meu presente para a prima aniversariante foi manuscrito _ inspiração do momento _, tive de esperar a prima ter tempo de digitar.
Agora está aí... Para as nossas netas um dia rirem de nós ou sentirem saudade, sabe-se lá...
PORQUE HOJE É SÁBADO
Porque hoje é sábado, nos reunimos aqui em meio a tantas meninas, filhas, mães, filhas da mãe...
Porque hoje é sábado, permitimo-nos todos os sabores, calorias para as nossas saudades e nossas ansiedades
Porque hoje é sábado, não temos pressa, e sobra tempo para prestar mais atenção às palavras escritas
Porque hoje é sábado_ espero_, temos também espaço para ouvirmos e sermos ouvidas, para um sincero e atento "como vai você"?
Porque hoje é sábado, carregamos a alegria e o conforto do domingo para partilhar entre mulheres tão diversas e tão queridas
Porque hoje é sábado, Monica nos reúne aqui, para que sejamos todas testemunhas de sua nova idade. Testemunhas do que passou, cúmplices do que há por vir.
Muito obrigada por me incluir nesse harém
Rita de Cássia

domingo, 1 de maio de 2011

Noite de gala

Que feliz!
 

A foto oficial. A fotógrafa
Rossana Lana caprichou!

Com as tias Elô, Keca e Ana,
que também dançaram muito

Era 2005 e, naquele ano, estava em alta (de novo!) as meninas promoverem festas de debutante.
Ela, no entanto, não queria valsa, não queria velas, não queria 15 casais... Que alívio!
Mas queria sim uma festa. Uma festa para usar vestido longo, dançar...
Contas daqui, contas dali, cheguei a um número: 150 pessoas.

Tititi com as amigas

E ela pergunta: "quantos amigos posso convidar?"
_ "Até 150, oras. Se faltar amigo, faço uma lista minha também."
Logo descobriu que não preencheria todas as vagas e me cedeu parte da cota.
Tão eufórica quanto ela, pude chamar para aquela "noite de gala" as pessoas queridas que, de um jeito ou de outro, viram Fernanda crescer.
A festa era dela, sem dúvida, mas foi minha também. Eu também usei longo. Eu também dancei. E como nos divertimos...
Para matar a saudade e compensar a distância que, no último dia 24, só me permitiu mandar parabéns por telefone pelos 21 anos completados, vão aí algumas fotos daquela noite tão feliz.

 
Abraço de amigo (Vítor?)

Mari, Mirla e Angel, amigas queridas
que ajudaram a embalar Fernanda, e
que também aproveitaram a festa.


Lendo mensagem
ao lado da Roberta
 


"O que é bonito é pra se
mostrar", ensinava a
 bisa Maria
 




quarta-feira, 13 de abril de 2011

91 dias...

Ela diz que tem saudade. Eu passo os dias, e as noites, distraindo a minha.
Por meses, achei que a saudade estaria resolvida ao final da viagem.
Mas a distância e os mergulhos no baú de fotos me contestam.
Mostram-me que a saudade não é da Fernanda que volta.
A saudade é de todas as Fernandas que se foram e que jamais voltarão.
Essa saudade não se cura, apenas se aplaca com a curiosidade pela Fernanda que virá.
Que venha... Conto os dias... 100, 99, 98, 97, 96, 95, 94, 93, 92, 91...

domingo, 13 de março de 2011

O tempo, a foto, a saudade...





Este domingo é dia de fotos. Para comemorar os 70, Helena, minha mãe, vai querer pose com todos os grupos: filhas, netos, irmãos, amigas... Já convocou as rebentas a chegarem mais cedo, para fazerem pose enquanto ainda têm maquiagem e estão em cima do salto.

Certamente exigirá que as imagens sejam impressas em papel, quiçá num álbum. Adora espalhar pela sala as lembranças da vida. E quanta vida! Está mais viva do que nunca. Vale muitas fotos. Posarei quantas vezes quiser, para fazer bonito aos olhos dos que virão.

O que parece formalidade pode ser um alento quando o tempo, as circunstâncias ou o destino não nos permitem ter todos por perto. Não me perdoaria, por exemplo, se nunca tivesse juntado as quatro gerações para essa foto que abre o post. Era Dia das Mães de 2007, e eu completava 40 anos. Seria a última foto das quatro juntas (talvez a única): Fernanda, eu, Helena e Maria.

Nas fotos seguintes, somos nós também. Clicadas na casa dos 20 anos. Cada uma a seu tempo:
Anos 20 - Maria, que posara por ocasião de seu noivado, para mandar a foto aos pais, em Santa Catarina
Anos 50 - Helena, que ganhara do pai, pelo aniversário, uma foto em estúdio
Anos 80 - Eu, no dia do primeiro casamento.
Anos 10 - Fernanda, de saída para a Irlanda, clicada pela digital da prima.

Neste domingo, Maria e Fernanda farão muita falta nas fotos também.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Domingo no parque X clubes paulistanos

Enquanto os clubes "limpinhos" paulistanos impõem regras medievais, preconceituosas e quase inacreditáveis para babás frequentarem suas dependências (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/881740-clube-obriga-baba-a-usar-branco-e-barra-ida-a-restaurante.shtml), outros enjeitados _ explícita ou veladamente _ pela elite da cidade se divertem no Parque do Ibirapuera. Domingo é um dia especial por lá. Dia em que o parque é um esperado passeio de familias inteiras, casais de namorados, jovens em ebulição...

Vindos de todos os cantos da cidade, os turistas do domingo chegam, em sua maioria, de ônibus. As moças capricham no visual. Não raro usam maquiagem e salto, revelando a importância que conferem ao acontecimento esperado a semana inteira. A criançada traz bola na sacola. Os homens, cerveja no isopor.

Fotografam-se o tempo inteiro. Primeiro, o grupo inteiro; depois, pai com filho, mãe com filha; as crianças sozinhas, a tia, os primos, e assim vão mudando a composição. É preciso garantir o registro de tanta alegria. Para, mais tarde, no orkut ou no facebook, ninguém ter dúvida de onde se estava, os paineis com o nome do parque e o lago são elementos constantes nas fotos.

O lago, aliás, ganha uma legião de observadores e admiradores no domingo. É a praia do parque. Ou a piscina. E os "banhistas" tomam suas margens, contemplam suas águas e seus habitantes. Quando se vem de longe, todos os detalhes ganham maior importância. 

Domingo é quando o Ibirapuera tem população maior de gente do que de cachorro, e suas árvores são muito mais que mero apoio para os alongamentos dos atletas de ocasião. A sombra generosa protege os casais de namorados do sol; dá guarida ao pique-nique e são teto perfeito para as redes esticadas (foto) pro cochilo.

No Ibirapuera do domingo, as babás ainda são livres...

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A gritaria que acorda minha saudade...

 

Sábado é dia de festa infantil no condomínio aos fundos do meu... E toda a gritaria, que por vezes me atormenta, também me remete a aniversários do passado.

E lá vou eu remexer o baú da nossa história.

Na foto maior, acima., o aniversário de 8 anos, na casa da Granja Viana. Quem ajuda a apagar a vela é a inseparável prima Marcella, agora mamãe da Maria Eduarda. Essa foi uma tarde inteira ao som da trilha sonora de Chiquititas, que inspirou também o traje da aniversariante e da maioria das convidadas, que ainda dançaram as coreografias. O poder da TV versus impotência materna!!!

À direita, festejando os 9 anos, num buffet de São Bernardo, com a Turma da Monica.

Abaixo, à esq., na festa dos 10 anos, lá está Marcella prestigiando Fernanda no colo do pai. São observados pela bisa Maria, durante o pique-pique organizado na área de churrasqueira do prédio do Rudge Ramos. Fernanda ganhou esse boné e não tirou mais durante toda a festa. 

À dir., a foto é no salão do mesmo prédio, quando comemorou 11 anos. Os adultos só puderam participar do "Parabéns a Você!":  "A festa é só para as minhas amigas". Ok. Acatado!


Abaixo, com as colegas de escola num boliche de São Bernardo, para comemorar os 12 anos. "Você só vai levar e buscar, porque se ficar pra ver o jogo é o maior mico". É a fase mãe-motorista.

No ano seguinte, um bolinho só pra família na sala do apto do Rudge.
"Só pra família", no nosso caso, é casa cheia. A tias já garantem quórum de respeito.



Autêntica sãobernardense, pediu jantar com os pais e a irmã na Rota do Frango com Polenta para comemorar os 14 anos. Escolheu o Florestal dos Demarchi. Tem programa mais abecediano? E não é que a noite foi bem legal...

 

sábado, 8 de janeiro de 2011

Os bêbados de Dublin


Com pubs por todo canto, Dublin é um convite ao álcool. E o hábito de encher a cara todo dia criou aqui algumas circunstâncias pitorescas.

Contam que, nos velhos tempos também, os cavalheiros abusavam tanto da Guinness e demais delícias desses barzinhos tão quentinhos, que, na volta pra casa, nunca sabiam em que porta bater, pois eram todas iguais e, não raro, dormiam na rua.

Foi então que alguém, num raro dia de sobriedade, resolveu sugerir que cada beberrão pintasse a porta
de uma cor.

Assim teria nascido a tradição das portinhas coloridas, que dão graça à sobriedade das casinhas praticamente idênticas.

E a bebedeira nos pubs é tão arraigada que as mulheres por aqui já estão conformadas com a concorrência, conforme sugere uma das fotos deste post, clicada num pub em Wicklow. Traduzindo: "Quando eu morrer, quero que me enterrem debaixo de um pub, assim meu marido irá me visitar sete dias por semana".




Espiando a Casa das 7 Mulheres

Nunca vivi em repúblicas, tampouco me lembro de frequentar alguma. Só dividi casa com família, marido e filha. Meu conhecimento sobre residência coletiva foi reunido na literatura, na tv e no cinema. Portanto, na prática, é nulo. Ou era. Já que em 29 de dezembro cheguei de convidada à casa onde Fernanda vive com as amigas, em Dublin. E, desde então, estou a espiar a casa das sete mulheres.

Além de Fê, vivem aqui mais quatro paulistas (Ana Paula, Julianni, Dani e Fernanda 2), a baiana Silvana e a mineira Pati. Dividem quatro dormitórios e dois banheiros de um apto compacto. Sala e cozinha - conjugadas - são de uso comum.

Ana, jornalista, é a mais madura da turma. Está a poucos dias de voltar para o Brasil, encerrando sua segunda temporada na Irlanda. Feliz por ter conseguido dar entrada num apto na planta, na zona norte paulistana, segue com espírito "rodinha nos pés": "Posso até morar em outro Estado, sei lá... Estou um pouco cansada de SP."

Julliani , 19 anos, a mascote do grupo, é outra que está prestes a deixar a república. Empregou-se em cidade próxima a Dublin e cuidará de três crianças na casa onde vai morar. Não se assusta com o que a espera. "Eles são muito fofos. Já me convidaram para brincar e combinamos de assistir alguns filmes!!!", derrete-se, para espanto e diversão das colegas. Antes de se mudar, comemora nos pubs, com os amigos, a conquista do novo trabalho, o primeiro na Irlanda, onde vive há pouco mais de um mês. A mãe já tem passagens compradas para visitá-la em julho. "Ela vem no meu aniversário".

Pati, recém-chegada de passeio a Noruega, espera resposta das entrevistas de trabalho. Anseia ser contratada para poder alugar o quarto individual que ficará vago com a saída da colega Julianni. É, de longe, a fala mais mansa da casa, com sua mineirice explícita e deliciosa.

Só Dani, figura doce e delicada, faz concorrência à calma de Pati. Dani passou o reveillón em Londres, onde depois teve a companhia de Pati. Na volta para Dublin, as duas perderam o avião. Saíram do hostel até com boa antecedência, mas houve pane do metrô e se atrasaram ao precisar recorrer a transporte alternativo. Ficaram 11 horas no aeroporto. E contam tudo com uma tranquilidade invejável...

Silvana, a soteropolitana, é baiana típica. Afetuosa, agregadora, é praticamente a "mãe" de todas. Rapidamente, com secador em punho, alisa o cabelo de uma; depois, faz as unhas de outra. Contam as meninas que Silvana também cozinha muito bem. Ainda não tive a chance de provar. Talvez seja a mais bate-perna da turma. Tem sempre uma festa, uma comemoração, uma visita para fazer. Vida intensa a dessa moça.

Fernanda 2, a santista, é recepcionista num hotel. Não vê a hora de pegar praia e visitar a família no Brasil nos próximos dias, quando estará de férias. Assim como Julianni, fala com a mãe todos os dias. No passeio para Wicklow, contou-me a saga dos primeiros tempos em Dublin e a notícia que recebeu ao chegar: sua anfitriã havia morrido enquanto ela viajava. E a partir daí, viveu uma série de contratempos e dificuldades. O emprego demorou, o dinheiro acabou... Mas agora tudo isso é passado. Fê 2 está em tempos de vacas gordas em Dublin.
 
Tudo aqui é dividido. Cada uma tem uma prateleira na geladeira e um espaço no armário. Mas se socorrem se alguém trabalhou demais e não teve tempo de ir ao supermercado. Compartilham um caos harmônico com muito alto astral e desprendimento. Com a saudade permeando cada dia, seguram a onda mutuamente. Em meio a tantas diferenças, respeitam-se com uma plenitude que emociona.

Hoje, estou num raro dia de solidão nesta casa após chegar do supermercado. As duas Fernandas no trabalho; Silvana em visita à prima, e todas as outras saíram para um café da manhã às quatro da tarde! É que a operação-café-na-rua demora horas para se concretizar. Até que todas sequem os cabelos, escolham suas roupas, cachecóis, luvas, gorros, casacos... É um burburinho imenso... E, agora, silêncio total.

Já sinto falta delas!